Emiliana Carvalho


À disposição do amor


Fui convidada por um jovem casal de amigos para tomar sorvete na praça. Lá chegando, nos assentamos e continuamos a conversar. Sempre regados pelo bom humor, falamos sobre tudo, mas o assunto recorrente era o Amor, os encontros e desencontros que ele promove, as escolhas e as intempéries as quais ele nos impõe. E entre uma fala e outra eu os observava, como os observo há tempos com uma curiosidade estrangeira.
O meu amigo é um rapaz visivelmente encantado pelo o amor que sente por sua esposa. Vê-se nos olhos dele toda a sorte de sonhos que ele cultiva para agregá-los à vida a dois. A minha amiga, também apaixonada, demonstra em seus gestos e em seus sorrisos a correspondência deste sentimento. Estão juntos há mais de quatro anos, acabaram de chegar na casa dos vinte cada um e dividem o mesmo teto há alguns meses.

É bonito de ver esse amor jovial, lúdico, construtivo. Assim parecem inabaláveis. Assim, tornam-se capazes de superar os desafios que a própria paixão que sentem um pelo outro sempre impõe, além dos obstáculos externos, os quais nenhum casal está isento de se deparar.
Vez ou outra eles cediam um pouco da atenção que dispensavam um ao outro para interrogar meu coração, me faziam perguntas, eu as respondia e me sentia em contraste com aquela atmosfera romântica. Eles me ouviam atentos, calavam um pouco analíticos, acho até que me reprovavam mentalmente as respostas, mas continuavam generosos com os meus desencontros e me ofertavam uma palavra e um sorriso juvenil.
Não sou perita no amor. Quando ele é o assunto, tropeço como um bebê que está tentando andar. Acho que lá no fundo, no fundo, bem no fundo mesmo, tenho potencial romântico. Penso que sei amar nos gestos, mais do que nas palavras. Acho que sempre busquei timidamente reconhecer o amor e fazer-me reconhecida por ele, mas não é fácil. Muitos de nós, espécimes humanos, sabemos disso. Mas, sei olhar e ver quando o amor chegou à porta de um casal amigo, pediu abrigo e foi acolhido.
Torço pelo casamento dos dois, sobretudo, torço pelo casamento dos dois com o amor. Que ele, o amor, permaneça dentro daquele lar, espalhando-se pelos cantos, criando recantos, frutificando e estendendo todo seu poder protetor e transformador sobre esses dois jovens corações tão dispostos a  a-m-a-r.